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Esse ano, ao sair dos pavilhões cheios de vinhos e gente falando do tema em diferentes línguas e de diferentes maneiras, bebendo y vendendo, para o vizinho e para o mundo, estava feliz!
O motivo foi as pessoas que conheci, o que as ouvi falar e também não ter criado muitas expectativas, nem querer degustar todos os vinhos, seria uma proeza monumental!
Chuva fina
Conferência Prescritores e compradores internacionais, o melhor cartão de visita do vinho espanhol
O ponto de partida da minha alegria foi a conversa no Speaker Corner-BWW Hub, International prescribers and buyers, the best calling card for Spanish wine, conferenciada pelos representantes Alexandre Comellas, Esther González, Enrique Valero, Guillermo Rodríguez, María Naranjo, Santiago Mora, das vinícolas Abadía Retuerta, Bodegas Borsao, das denominações de origem DO Rueda, DOP Jumilla e DO Cava e do ICEX, uma entidade pública que trabalha para a internacionalização da economia e das empresas espanholas, moderada por Pedro Ballestero MV, um grande experto e comunicador do vinho.
Na introdução da conversa se contaram anedotas sobre a percepção do vinho espanhol em outros países, que as vezes pode passar desapercebido, apesar do grande empenho em divulgação. Umas das razões que se destacou é que fora da Espanha, não tem uma voz única para promover o vinho espanhol, acontece de algumas regiões se promoverem de forma independente e isso pode confundir o consumidor. Para tentar remediar essas controvérsias, desde ICEX se realizam campanhas e iniciativas, como as certificações que criaram para promover o vinho onde a sua presença é fundamental: nos restaurantes de comida espanhola e nas lojas de alimentação espanholas, os selos #restaurantsfromspain e #colmadofromspain. Também existem formações sobre vinhos da Espanha em plataformas e entidades públicas e denominações de origem, como a Cava Academy (espumosos), Rioja Wine Academy e a Aula del Jerez.
“Vinho sem comida é incompreensível”
_Miguel Torres
Nessa conferencia se quis argumentar e ressaltar a importância das pessoas que falam de vinho de uma maneira mais informal e pessoal, as chamadas prescritoras, ou embaixadoras, do vinho, como um dos importantes pilares de divulgação. Considerando que muitos consumidores não têm quase ou nenhum conhecimento sobre o vinho, a forma simples, agradável e o vocabulário mais amigável, com que essas pessoas embaixadoras geralmente comunicam, é muito favorável.
Se falou que a divulgação do vinho espanhol deve ser uma chuva fina, que é constante e não cessa, e que para criar uma marca-país e ter reconhecimento sem grandes esforços, se requer tempo.
Mesmo que o objetivo fosse o mesmo, os participantes tinham opiniões diferentes. A maioria achava que qualquer voz que fale do seu vinho e o dê a conhecer é valiosa e importante para o setor, já outros achavam que, para otimizar tempo e recursos, se deveria focalizar nas pessoas ‘embaixadoras de embaixadoras’. Isso levando para as redes sociais seria falar de influenciadoras vs micro influenciadoras!
De qualquer modo todos estavam de acordo numa coisa, para falar de vinho agora se deve começar falando desde o coração de cada vinícola, da sua gente, do que viveram os seus antepassados para chegar onde estão, do seu entorno e o que ela tem a oferecer. Em se tratando de vinho, as grandes regiões vinícolas têm mais similaridades que diferenças, nos seus territórios a maioria das vinícolas tem vinhas velhas, usam alta tecnologia ou decidiram trabalhar de maneira tradicional, são vinhas de mar ou de montanha. Assim sendo, a parte técnica, racional já não serve como argumento para que se conheça um vinho, senão quê história vai contar esse vinho, como vai tocar e ficar na memória de quem o bebe para contar essa história a outros.
No coquetel após essa conferência, quis experimentar o vinho da Bodegas Borsao, pioneira na produção de Garnacha na sua região. O vinho era Tres Picos, elaborado com Garnacha.
Algumas frases marcantes dos participantes:
“Menos fermentação, mais emoção”_Enrique Valero, Abadía Retuerta
“O tempo é essencial para criar uma marca-país”_Enrique Valero, Abadía Retuerta
“Não somos tão diferentes, o importante é quem somos e o que queremos transmitir”_Guillermo Rodriguez, Bodega Borsao




Degustação de vinhos
Bodegas Ysios
Com Clara Canals e Sarah Jane Evans
Também participei da incrível degustação de seis vinhos da vinícola Ysios, moderada pela Clara Canals e Sarah Jane Evans, experta em vinhos e copresidenta de Decanter. A vinícola Ysios é considerada como a joia escondida da Rioja, concretamente da Rioja Alavesa. A vinícola tem a riqueza arquitetónica de Santiago Calatrava, como também das pessoas que a compõem, como a enóloga Clara Canals, considerada por The Drinking Business, uma das cem melhores enólogas do mundo.
Ysios Rosé 2023, casta Garnacha, Tempranillo e Viura
Ysios Blanco 2022, casta Viura, da cabezada (zona mais alta do vinhedo) - se comentou que esse vinho pode ser tomado em temperatura ambiente, uma exceção entre os vinhos brancos
Ysios Selección 2019, casta Tempranillo - representação do Tempranillo da Rioja Alavesa, já que está composto dessa casta colhida em diferentes parcelas de povoados próximos a vinícola Ysios
Ysios Grano a Grano, casta Tempranillo - considerado um ‘vinho da turma’ já que desde da safra 2016, as uvas são separadas uma a uma, e precisam muitas pessoas nessa etapa da elaboração
Ysios Finca el Nogal, casta Tempranillo, faz parte
da categoria de Viñedo Singular (vinícola singular)
Ysios Finca las naves 2019, casta Tempranillo, Garnacha, Graciano e Viura - as diferentes castas foram trabalhadas ao mesmo momento
Bodegas Pita | Bodega Primitivo Collantes
Bodegas Pita
Uma vinícola familiar em Valladolid, na DO Rueda. Faça parte da seleção de vinícolas exclusivas, com garantia do selo europeu, da Spanish Organic Wine (Associação Espanhola de Vinhos Orgânicos).
Pita Dominio de Verderrubí, casta Verdejo
Pita La Cantera, casta Verdejo - Verdejo fermentado em barril de carvalho francês, e envelhecimento sobre lías finas
Pita Terracota, casta Verdejo - fermentação e envelhecimento em pote de barro
Bodega Primitivo Collantes
Vinícola em Cádiz, na DO Jerez.
Amontillado Fino Fossi, casta Palomino Fino - um amontillado com uma perceção de álcool mais ténue
Palma Cortada, algo entre um Fino e um Amontillado
Fiquei curiosa para degustar os vinhos do Mar de Vins, uma vinícola artesanal/de garagem, de Alicante. Fazem vinhos com Malvasia e Giró e alguns são com envelhecimento submarino. Tenho na minha lista o L’illot 2022, um varietal de Giró, uma casta que ainda não conheço.
Outros vinhos que me chamaram a atenção foram os de Glass Canned Wine, um vinho em lata, produzido na região do Penedès, que tem um desenho superelegante, além de uma filosofia ética em todo o seu processo de elaboração.
E o vinho Nakens, da DO Terra Alta, que na sua apresentação por Andrea Miró, causou sensação pelo seu baixo teor alcoólico, sendo o primeiro vinho espanhol com nove graus.
É bebendo e contando histórias que se aprende sobre vinho
A lição que aprendi é que posso ser parte da ‘chuva fina’ escrever sobre vinho desde a humildade de quem está aprendendo. E quantas mais histórias ouça e mais vinho deguste mais saberei sobre o assunto, que como todas sabemos isso do vinho não é flor-de-um-dia, já são centenares de anos que se bebe e se fala de vinho!
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As três zonas da Do Rioja, Rioja Alta, Rioja Alavesa, Rioja Ocidental